Várias pessoas encontram dificuldades em escrever e ler o que escreveram em publico, pois de
acordo com Cagliari (2001), são raras as ocasiões em que se faz
necessário ler em público um texto próprio ou ter que escrever um
texto em público. A autora ainda afirma que esta dificuldade não
deveria ocorrer pois as pessoas são consideradas “alfabetizadas”.
A dificuldade para
escrever como afirma Cagliari (2001), não acontece apenas com as
pessoas pouco escolarizadas ao escrever uma carta, por exemplo, mas
também para aquelas pessoas que vão prestar um concurso, uma prova
de redação para o vestibular, assim se nota que entre eles há uma
grande dificuldade ainda. E a autora também afirma (p.62) que, “as
dificuldades encontradas na produção de textos escritos são muito
variadas”.
Cagliari aponta em seu
texto que uma das possíveis explicações para haver dificuldades na
escrita de texto é a maneira como a escola trata as produções,
desde a alfabetização até o segundo grau. Na escola a autora
aponta dois tipos de métodos para a concepção de um texto escrito:
o método das cartilhas e uma livre deste método.
No capítulo a autora
faz uma retomada de como é concebido um texto pela Linguística
Textual. Afirmando que de acordo com alguns outros autores como Koch
e Travaglia 1989, vão dizer que “é a coerência que transforma
uma sequência de enunciados em um texto e que é “a coerência que
confere textualidade ao texto”. A autora também destaca que “são
raros os casos em que pode haver coerência sem que haja coesão, em
um texto” (p.63). E também vai apontar que o mecanismo de coesão
e coerência é o fator principal para o sucesso de um texto bem
escrito ou também pode ser o motivo de fracasso.
A autora analisa textos
escritos extraídos de cartilhas e produções de alfabetizando do
ponto de vista da Linguística Textual sendo analisados os fatores de
coerência e os mecanismos de coesão.
“A
partir dessa análise, pode-se perceber que é justamente na
construção da coerência e da coesão (que se espera que um
texto escolar possua) que alguns alunos sentem dificuldades, no
momento de produzir seus textos”. (Cagliari, 2001, p. 64)
Ao entrar na escola
Cagliari afirma que as crianças recebem cartilhas para fazerem
cópias
dos textos contidos
nelas, desse modo a criança aprende apenas um modelo de texto, que
constituirá a escrita dos alunos, desse modo a autora afirma que,
“em termos de sua coerência e coesão, fica bastante claro porque
essas mesmas crianças apresentaram problemas sérios nas suas
produções futuras”. (p.65)
Sendo assim, nota-se que
os textos apresentam os seguintes problemas: mecanismos de coesão
mal explorados apesar de presentes nos textos, sendo apenas coesão
referencial e não de coesão sequencial.
“Além
de não explorar bem os mecanismos de coesão, a coerência desse
texto não atinge um nível desejável. Uma vez que se propõe
que não existe um texto incoerente em si
mesmo, mas somente textos coerentes para determinados
interlocutores, falantes de uma determinada língua, em uma
determinada situação comunicativa, numa determinada época.”
(Cagliari, 2001, p.67.)
Os textos são
considerados fracos por ser um texto solto, descontextualizado, sem
razão de ser. Não existe intenção comunicativa, objetivos,
destinatários ou elementos de comunicação. Os textos analisados
são também repetitivos, falta de adequação do conhecimento de
mundo, dentre outros. A autora faz uma crítica a cartilha dizendo
que “a coletânea de textos apresentados passa a ideia de que a
coesão e coerência não são fatores necessários para a construção
de um texto, assim se tem a ideia de que um texto é uma sequência
de frases aleatórias, se encontra nesses textos apenas repetição,
substituição por pronome e elipse.
Cagliari apresenta as
seguintes hipóteses sobre os textos escritos dos alunos que ou as
crianças não conhecem nenhum mecanismo de coerência e coesão e
são poucos ensinados na escola ou eles conhecem esses mecanismos e a
escola faz com que eles desaprendam. As crianças segunda a atora
conhecem esses mecanismos, mas escrevem textos conforme o modelo da
cartilha, que lhes é apresentado, não havendo uma forma de escrita
livre.
Ao observar textos
escritos por crianças que foram alfabetizadas por outros métodos
sem ser o da cartilha vemos grandes diferenças, pois eles apresentam
poucos problemas de coesão e coerência ao ser comparado com os
textos escritos com os de alunos que foram alfabetizados pela
cartilha, os textos apresentam coesão sequencial, que é ausente
como já dito não texto da cartilha. O texto apresenta marca de
tempo e espaço, existe personagens mais ou menos bem delineados,
apresenta trechos que podem ser classificados.
“Assim
sendo, o papel da escola deve ser apenas o de aperfeiçoar os
conhecimentos dos alunos, já adquiridos quando aprender falar,
ensinando como transportá-los para a linguagem escrita, que tem
suas caraterísticas próprias (as quais devem ser também
explicadas para os alunos), e colocando-os em contato com todo
tipo de linguagem escrita, para que possam ampliar o seu
repertório de mecanismos coesivos.” (Cagliari, 2001, p.82)
Diante disso e dos
textos analisados neste capítulo vemos que de acordo com a autora
que, “são poucos os problemas apresentados por alunos
alfabetizados por outros métodos que não o da cartilha.” Sendo
assim se conclui que a cartilha só ajuda na ortografia, por meio da
decoração e não ajuda em nada na construção de um texto bem
escrito.
Alguns professores
trabalham com a criação de textos orais enunciados previamente para
a produção de textos escritos. Desse modo a autora afirma que os
textos nunca serão completamente incoerentes e pouco coesos, por que
os falantes da língua já adquirem os mecanismos de coesão
utilizados por ela na modalidade oral.
Cabe a escola apresentar
aos seus alunos “desde a alfabetização, ás várias diferenças
entre os textos orais e escritos” e acordo com Cagliari. A fala e a
escrita possui características intrínsecas que vão afetar a
construção de um texto nessas duas modalidades. A autora afirma
também que, é “dever da escola mostrar aos alunos quais são os
mecanismos coesivos próprios da escrita, pois este é um
conhecimento que ele não traz de sua linguagem oral e também afirma
que a leitura é a melhor maneira de adquirir esses conhecimentos e
outros necessários.
Referencia:
CAGLIARI, Glades Massini.
O TEXTO NA ALFABETIZAÇÃO, Coesão e Coerência. Capítulo 3
– PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ALFABETIZAÇÃO (p. 61 a 91). Editora
Marcado Letras Campinas - São Paulo, 2001.